20.10.09

R. A. por Carlos Drummond de Andrade

RODOLFO ALONSO

por Carlos Drummond de Andrade


Uma poesia que não usa as palavras pela sensualidade que desprendem, mas pelo silêncio que concentram: assim é a de Rodolfo Alonso. Poesia que tenta exprimir o máximo de valôres no mínimo de matéria vocabular, impondo-se uma concisão que chega à mudez: Hay cosas que ni digo. E que, por isso mesmo, se julga con severidade: ¿Para salvar / un minuto / escribo / en lugar de vivir?
Em verdade, escrever, sob tamanha exigência, é um ato de vida, liberta de violências, mistificações e compromissos. E restaura a vida essencial, captando o que, na sucessão do tempo, nem é percebido pelos que têm gula de chegar a um ponto inexistente. Rodolfo Alonso observa, por exemplo, uma cicatriz. Aparentemente, é uma obra acabada da natureza. Mas, por baixo dela, o poeta descobre o fogo central da chaga, permanente, a consumir e alimentar. La herida ya no sabe si existe. Sólo la cicatriz, pero viviente, zumba y resiste, negándose a morir, negándose a vivir.
Talvez que a ambição deste poeta – como saber ao certo a ambição da poesia? – seja trazer para a vida de todos os dias o fogo de uma chaga viva de amor, ardendo no maior silêncio de compreensão.


(Rio de Janeiro, 1968)

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